sábado, 7 de fevereiro de 2009

Ensaio sobre a cegueira - Um filme forte e impressionante


A história é relativamente simples: uma epidemia que deixa as pessoas cegas. Todavia, a maneira como é conduzida é tudo, menos simples.

Ensaio sobre a Cegueira (Blindness, 2008) é um filme fantástico. Trata-se da adaptação do livro homônimo de José Saramago, que explora o lado psicológico e social que uma epidemia como essa deixaria na sociedade. Fernando Meirelles, sabiamente, manteve essa reflexão em sua obra, criando um cenário desolador e assustador.
A história acompanha a mulher do médico (os personagens não têm nomes), interpretada por Julianne Moore, a única pessoa que não é atingida pela tal doença cegueira branca. Seu marido (Mark Ruffalo, em ótimo desempenho) é um médico oftalmologista que após atender o primeiro homem com essa doença (Yusuke Iseya), acaba contraindo-a. Os primeiros cegos são deslocados para um asilo abandonado, numa tentativa de evacuação da doença, que já sabemos que não será o suficiente para impedir uma epidemia. Aos poucos, mais e mais cegos vão chegando ao asilo, esquecido pelas autoridades, onde lixo, dejetos e pessoas vivem, amontoadas pelos cantos.

É difícil não se envolver com a terrível situação da mulher do médico. Ela é a única que enxerga o caos que a cerca. Em alguns momentos da projeção, você chega a se perguntar se não era melhor ficar cego, ao invés de enxergar toda a destruição e miséria que a envolve.
Aliás, a palavra que define a obra é miséria. Numa situação onde todos deveriam se unir, o que reina é a discórdia, a paranóia, a brutalidade e a sujeira. O ser humano é vil e grotesco nessas situações. Todos reunidos num estado de natureza. Os mais fracos serão explorados, maltratados e destruídos. Numa das cenas mais fortes do filme, um dos grupos do asilo começa a controlar a comida. O preço para ter alimentos é entregar as mulheres para serem estupradas. Uma idéia cruel e, infelizmente, realista. No que o ser humano é capaz de se tornar em situações extremas? A mesma pergunta levantada pelo Coringa no Batman - O Cavaleiro das Trevas é feita nesse filme pelos interlocutores.
Apesar do descaso da crítica, considero Ensaio sobre a Cegueira um dos melhores filmes de 2008. A sensação deixada pela história é de desespero e esperança. Existem certos momento de profundo medo em relação aos personagens, porém no fim sabe-se que tudo vai dar certo. Realmente, a obra merecia pelo menos 3 indicações ao Oscar: melhor ator coadjuvante para Gael Garcia Bernal, que interpreta um barman violento e dominador; melhor trilha sonora e a que mais merecia, melhor roteiro adaptado. Contudo, sabemos que o Oscar nem sempre é justo...
Eu recomendo Ensaio sobre a Cegueira como um complexo retrato da miséria humana, da volta ao estado de natureza do homem. Não é um filme agradável, mas sim cinema grandioso e analítico. Com certeza, você tirará várias conclusões sobre o homem em si.

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